quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SPORTING CP NA I TAÇA IBÉRICA FEMININA DE RUGBY

A equipa feminina de Rugby do Sporting CP na I Taça Ibérica, Madrid 2017
Pelos inícios de 1500, Duarte Pacheco Pereira, avisava no seu Esmeraldo de Situ Orbis que “a experiência, que é a madre das cousas, nos desengana e de todas as dúvidas nos tira”. E foi apenas este saber de experiência feito que faltou à equipa de rugby feminina do Sporting Clube de Portugal para acrescentar à história de ter participado na disputa da I Taça Ibérica de Rugby Feminino a possibilidade da sua conquista.
Com apenas três jogadoras - a capitã e centro, Isabel Osório, a Nº8, Maria Heitor e a pilar neozelandesa Leilani Perese - com conhecimentos sustentados do jogo de XV, as jogadoras leoninas mostraram uma notável capacidade, pelo pouco tempo de treino dedicado, de adaptação demonstrando duas coisas: que existe capacidade para o desenvolvimento do rugby de XV feminino e que o “Tens” não corresponde a qualquer forma adequada de passagem do “Sevens” para o XV.
Habituadas ao “Sevens” e a alguns jogos de “Tens” - esse mero modelo de “Sevens” fisicamente menos exigente - as jogadoras do Sporting, acusando a falta de hábito nas transformações estratégicas e tácticas que diferenciam o XV das outras variantes, tiveram naturais dificuldades nalgumas áreas de jogo como na defesa do terreno sobre jogo-ao-pé adversário (dois ensaios foram assim sofridos), na continuidade do jogo sem passagem pelo chão (quando o conseguiram a sua conquista territorial foi evidente), nas linhas de corrida defensivas e ofensivas da 3ª linha, na necessidade de retirar rapidamente a bola dos pontos de quebra (nos “Sevens” ou “Tens” a vantagem desta rapidez, pela sobrevalência da “posse”, é relativa) ou ainda na capacidade de recorrer eficazmente ao jogo-ao-pé ofensivo e defensivo quer, no primeiro caso, porque os espaços se apresentam no XV de forma diferente, quer, no defensivo, por falta do comprimento necessário por falta do recorrente hábito - não se passa a época a treinar um gesto técnico de que pouco se necessita...
A equipa feminina do Sporting assentou a estratégia da sua preparação construindo sobre aquilo que melhor sabiam fazer - como exemplo o facto de nos alinhamentos só haver praticamente lançamentos curtos - procurando assim as adaptações necessárias para execuções que pudessem surpreender as adversárias no jogo de XV. Estes propósitos tiveram por base o sistema de organização de 2-4-2 que permitia tirar todo o partido das notáveis capacidades de penetração das pilares Tânia Semedo e Leilani Perese. E assim foi, com a conquista territorial a mostrar-se muito positiva numa continuidade com muitos metros de transporte de bola conseguidos através do movimento de diversas jogadoras que, com recurso ao “passe-em-carga” (off-loads), mantinham o objectivo de avançar e conquistar território. Terá aqui faltado a audácia de menor aceitação da passagem pelo chão ou uma maior rapidez de retirada da bola para tirar todo o partido dos desequilíbrios conseguidos - facto compreensível por se tratar de um risco demasiado elevado para os hábitos competitivos que conhecem…  
Se em relação à defesa as jogadoras leoninas mostraram grande capacidade de eficácia - com placagens de fazer levantar estádios - a participação do Luís Pissarra elevou a fasquia para a adoção do 2x1 defensivo que permitiu até algumas recuperações de bolas que não estariam nas melhores expectativas. Nas formações ordenadas - fase onde poderiam, pela óbvia falta de hábitos, ter maiores problemas - a ajuda dos avançados masculinos do CDUL (que desde logo se mostraram disponíveis) veio possibilitar às avançadas leoninas a oposição adequada aos arranjos necessários para que o colectivo pudesse responder ao maior traquejo das avançadas espanholas. E as respostas no campo e no dia da final foram as melhores.
Perdendo por 4 ensaios contra 3 (2 de Júlia Araújo  e 1 de Lani Perese) nos 27-15 finais, a equipa feminina do Sporting teve um comportamento exemplar numa demonstração de capacidades, vontades e dignidade que possibilitaram uma atitude competitiva de elevado nível - reconhecida aliás pela equipa adversária, seus dirigentes e público espectador presente.
Foi pena, repete-se, não ter sido possivel conquistar a I Taça Ibérica mas é bom lembrar que o Olimpico de Pozuelo é a equipa campeã de um país que, na componente feminina, esteve presente, em Sevens, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e, em XV, nos Mundiais Femininos de 2017. Portanto pertencente a um mundo que nós embora qualificados, por pura obra e graça de um qualquer algoritmo, no 15º lugar do Ranking Feminino da World Rugby com 64,00 pontos, desconhecemos por completo ao não termos qualquer competição feminina de XV e nos limitarmos a fazer de conta que preparamos o futuro.
A minha participação, enquanto Conselheiro Técnico desta equipa liderada por Nuno Mourão, neste grupo de elevado grau de coesão - foi notável a maneira como incluiram a recém-chegada neozelandesa e Maori, Lani Perese, aceitando que fosse ela a fazer, na sua língua natal, os votos de Acção de Graças antes das refeições - foi muito interessante e, naturalmente, obrigou-me - para garantir o cumprimento do conceito de que “a estratégia pode apresentar-se como brilhante mas é a sua execução que a define” - a voltar às acções de campo com tudo o que elas têm de demonstração do acerto e da eficácia. Foram uns dias muito agradáveis junto a um grupo de jogadoras muito interessadas e empenhadas em garantir a boa imagem da camisola que envergam. Uma experiência que ficará na memória e que a medalha que me ofereceram não deixará esquecer.   

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