quinta-feira, 6 de julho de 2017

SEVENS FORA...NADA!


As aparências podem iludir mas os resultados não.
E nos Sevens - o Grand Prix Sevens, vulgo “Europeu” - os resultados são a evidência do que muito mal vai no rugby português.
Este ano de 2017 era muito importante para a reclassificação dos sevens portugueses. E haveria algumas facilidades que poderiam ajudar: classificando para o Mundial teria equipas a competir que, por já classificadas por resultados anteriores, não se apresentariam na máxima força mas apresentariam jogadores da área do desenvolvimento para lhes permitir alguma rotação e garantir   competitividade interna para a melhor constituição da equipa para o Mundial de 2018. E foi isso que se viu na Inglaterra, na França, na Escócia - que nem se apresentou - ou Gales. Por outro lado, com a Russia e a Espanha já qualificadas como equipas residentes no Sevens World Series, a luta por um lugar para o “qualifying” de Hong-Kong estava reduzida à Irlanda, Alemanha e Geórgia uma vez que a aposta da Itália ainda não parecia absoluta. Neste quadro, um dos lugares para o Mundial e a possibilidade Hong-Kong poderia ainda ser uma hipótese.
A Portugal, naturalmente, interessaria poder estar presente em Hong-Kong quer para lutar pelo acesso ao Sevens World Series quer para um mínimo de competição de nível mais elevado que lhe permitisse iniciar da melhor maneira o percurso de classifucação para os Jogos de 2020 no Japão.
É claro que haveria que contar com a substancial melhoria que as diversas equipas - motivadas pelo factor olímpico - têm vindo a mostrar. O que significava ser necessário um cuidado assinalável na preparação. Até porque há existência de resultados nesta variante corresponde - para além da inexistência de custos nas viagens e estadas competitivas - o recebimento de quantias nada desprezíveis vindas quer da World Rugby, quer do Comité Olímpico de Portugal.
Se assim se pensou - inclusive com a garantia que, após o jogo com a Bélgica, o sevens teria prioridade absoluta - pior se executou - não houve qualquer prioridade e deixou-se que as coisas corressem ao deus dará. E os resultados estão à vista e demonstram a incapacidade da equipa portuguesa e da sza envolvente para atingir um lugar de relevo. Ou seja: depois do erro estratégico que nos custou a presença na Sevens World Series - e como iremos lá voltar é a resposta para um milhão de euros - novos erros deitaram fora a melhor oportunidade que nos aparecerá nos próximos tempos (sabe-se de análises feitas: o ano de melhores oportunidades para conquistar posições em modalidades olímpicas é o ano pós-Jogos).
As nossas classificações, nas três etapas do GPS, foram de 6º, 11º e 12º para atingir um total de 13 pontos classificativos que nos colocam, a par da Bélgica, na penúltima posição do Europeu 2017. Isto é, do sonho de chegar a algum lado visível, ficamos apenas na tentativa de não baixar de divisão - a Polónia, último lugar com 4 pontos, por ser uma das organizadoras de uma das etapas não pode, por regulamento, baixar de divisão. Ou seja, estamos na corda bamba. ficando até dependentes de uma qualquer surpresa que a Polónia (felizmente apenas com 4 pontos) possa conseguir no último torneio.*
Com o deitar borda fora da prioridade prometida - má gestão, pior visão e entrega cómoda e irresponsável do comando generalizado das decisões a quem não mostra(ou) capacidades - a selecção portuguesa apresentou-se para o primeiro torneio, Moscovo, com 4 jogadores estreantes, em Lodz com, de novo, 4 estreias em 8 mudanças de jogadores em relação à etapa anterior e em Clermont com 2 jogadores a estrear em 7 mudanças em relação à etapa russa - em três etapas foram realizadas 10 estreias e um número elevadíssimo de alterações em relação à equipa utilizada na 1ª etapa. O que representa, obviamente, uma desconstrução daquilo que se quer construir. Ou seja, um erro de processo!
Sabe-se da demonstração de estudos científicos ser a coesão o factor essencial da construção de resultados desportivos positivos nas modalidades colectivas. Mais importante até que o valor do talento que possa existir que, não sendo devidamente integrado, se mostra pouco eficaz.
Ora a coesão da equipa depende do factor tempo, isto é, do tempo em que os jogadores actuam conjuntamente - e é evidente que uma equipa constituída desta forma pouco cuidadosa não pode ter a coesão necessária ao melhor comportamento desportivo no alto-rendimento.
Se a este facto juntarmos os maus hábitos competitivos internos ou as cada vez maiores dificuldades técnicas - nomeadamente por erros na formação - que patenteiam os jogadores portugueses, teremos o conjunto explicativo do nosso desaire. De facto o jogador português placa mal, tem dificuldades na precisão, rapidez e comprimento do passe, a que se juntam dificuldades de leitura que lhe impedem a necessária convergência para romper a defesa adversária. Para além disto sabemos que não dispomos de jogadores com elevada velocidade que possam estabelecer diferenças apenas pelo facto de haver espaço frontal desprotegido - facto que exige uma importante capacidade desmultiplicadora e de jogar “em cima”, do adversário, fixando-o e atrasando-o no seu deslizar.
Acresce ainda a estes factores uma outra necessidade: os jogadores portugueses têm vindo a ser formados - ou a isso fazem crer pelo seu comportamento - com a ideia de blocar, agarrando ao tronco e envolvendo os braços do portador da bola de forma a impedi-lo de a passar e até de garantir um maul sem progresso ou libertação da bola e assim recuperar, através da formação ordenada sequente, a sua posse. Bom, teoricamente interessante, possível de utilizar nas competições internas mas impossível de transportar para o nível internacional. Porque a nossa compleição física não nos garante qualquer vantagem nesta execução e, pelo contrário, permite que o portador da bola avance no terreno enquanto, simultaneamente, o apoio se vai aproximando, garantindo assim a posse da bola e a continuidade do movimento com a defesa, sempre a recuar e a não ter tempo de se organizar devidamente.
O objectivo dis jogadores portugueses ao nível internacional deve ser o de derrubar o portador da bola o mais rapidamente possível, isto é, placar efectivamente. A eventualidade, que existe, do placado conseguir um passe, para além do risco técnico que envolve, exige a rapidez e proximidade do apoio - nem sempre fácil, principalmente em Sevens - mas que não deve sobrepor-se ao facto de o jogador placado ser obrigado, imediatamente ao contacto com o chão, a largar a bola, abrindo assim uma oportunidade à sua recuperação. Obviamente que esta opção exige treino suficiente para que se não caia na armadilha da falta - mas feita com um mínimo de capacidade técnico-táctica permite, pelo menos, que a defesa se recoloque e que se apresente em superioridade numérica.
Perdida qualquer - por erros que roçam a negligência, repete-se - possibilidade de conseguir uma boa classificação - mesmo a vitória na última etapa não nos daria melhor do que um sexto lugar geral - resta-nos aprender e modificar processos e métodos. E, acima de tudo, desistir de pretender obter resultados diferentes com os mesmos procedimentos.

* Por não ter reconhecido ser a Polónia um dos países organizadores de uma das etapa do GPS, escrevi como se ainda contasse para a classificação final. Não conta, estamos em último lugar com a Bélgica e, portanto, a lutar para não descer.

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