quinta-feira, 13 de julho de 2017

BATALHA DE FAZ DE CONTA


Composição de Nicholas Bishop
O analista e consultor - trabalhou com Graham Henry, Mike Ruddock e Stuart Lancaster - Nicholas Bishop fez as montagens necessárias para demonstrar a inexistência - como também considero - de toque-para-diante ou adiantado de Liam Williams e que terá motivado a decisão precipitada de Romain Poite. E precipitada porquê? porque se fiou nas aparências e não se preocupou com a análise da trajectória da bola - único ponto, fora dos relacionados com jogo desleal ou violento (Lei 10), que importa focar antes de qualquer outro em situações idênticas.
Pode aliás perguntar-se onde estaria Jérôme Garcés, o árbitro-auxiliar? Deixando-se ficar junto à linha de meio-campo o também árbitro internacional francês cometeu um erro de palmatória e não pode sequer elucidar o seu chefe de equipa da inexistência de qualquer falta dos Lions (em princípio estaria na linha da salto dos dois jogadores).
Curiosamente o posicionamento de ambos os juízes estava errado neste pontapé de recomeço: Poite do lado do pé do chutador, Garcés no meio-campo. O primeiro, avançando pode impedir a utilização da totalidade do ângulo de pontapé e, tendo por isso, que ter uma maior atenção à bola, não verá o que se passa nas suas costas - e não viu, no que parece um fora-de-jogo - a relação entre a ultrapassagem da linha de meio-campo de Kieran Read e da bola. Na linha de meio-campo e com todo o campo de visão liberto, Garcés deixou seguir. Passemos á frente: por mais que pareça, Read não terá arrancado em falta.
Bastante adiantado em relação aos companheiros (primeira figura), Read salta para a  bola com um braço estendido e colide com Sam Williams que, também no ar, tentava captar a bola. Ken Owens, o número 16 dos Lions, está mais próximo da linha de ensaio adversária do que o defesa seu companheiro e portanto em fora-de-jogo e que corre na direcção do seu campo para se colocar em jogo. Situação que não é penalizável até que, nessa posição, interfira no jogo.
Repare-se na primeira figura: Williams está a saltar no prolongamento da letra "L" da palavra Life - onde a bola lhe ressaltou - e o seu companheiro Owen, continuando a correr em direcção à sua área-de-ensaio, está na zona do "f".
Depois da bola ter ressaltado Williams, Owens (segunda figura) apanha a bola entre a zona "r" e "d" da palavra Standard - ou seja, a bola ressaltou de Williams para trás, em direcção à sua área-de-ensaio, e, portanto, não houve qualquer adiantado ou toque-para diante.
Williams (terceira figura) atinge o chão, empurrado por Read, no prolongamento do início da letra "n" e Owen, que já havia - com ar assustado - largado a bola, continua "à frente" de Williams. Porque Williams, já sem bola, recuou no terreno da letra "L" à letra "n"...
A bola rolou e foi apanhada pelo centro neozelandês, Lienert-Brown, que ficou numa excelente posição de vantagem. O árbitro apitou!
Partindo do princípio que Read não fez falta sobre Williams - o que é duvidoso, mas a má posição de Garcés a nada ajudou - não há qualquer falta sequente - tão pouco fora-de-jogo acidental e o jogo deveria prosseguir.
Então porque houve a precipitação de Poite e toda a trapalhada que se lhe seguiu?
Fundamentalmente penso que por cansaço - falta de oxigénio suficiente a arejar o cérebro uma vez que o jogo teve uma intensidade muito superior àquela que os árbitros franceses estão habituados.
E agora? Agora nada ! - embora se espere que a Rugby World clarifique estas regras que já haviam sido motivo de reparo quando do caso Joubert no Austrália-Escócia do Mundial de 2015.
O mais impressionante de toda esta situação, a 2 minutos do final do jogo, foi que, terminado, todos os envolvidos justificaram o meu "agora nada!" e tiveram um comportamento exemplar. Kieran Read, capitão neozelandês, declarou que "não foi por o árbitro não ter marcado falta que perdemos" - curiosa expressão; Steve Hansen, o treinador principal dos All-Blacks lembrou que "nós devemos apoiar os árbitros e não criar-lhes situações de aperto". 
Ninguém gosta de ficar com a sensação de que deixou escapar a vitória por entre os dedos e todos os que falaram no pós-jogo lembraram que prefeririam a vitória. Apenas isso, sem acusações ou azedumes. Numa demonstração de desportivismo exemplar para quem tinha passado 80 minutos a lutar, uns contra os outros, com quanta força e energia tinha. Razão tinha o Rt Reverendo W. J. Casey quando em 1894 estabeleceu: o Rugby é um jogo para cavalheiros de qualquer classe mas nunca para maus desportistas, sejam de que classe forem
Tendo sido um formidável jogo de rugby foi também uma enorme demonstração dos valores da competição desportiva. Um exemplo!
Final do 3º teste - o jogo é uma batalha de faz-de-conta!
  

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