segunda-feira, 31 de julho de 2017

MEIAS-FINAIS DO SUPER RUGBY 2017

As meias-finais do Super Rugby foram dois excelentes jogos com a curiosidade - veja-se o quadro dos Dados Estatísticos - de mostrarem vantagens assimétricas para os vencedores de cada jogo. Afinal que características estabelecem a diferença e conduzem à vitória? Olhando para o quadro, só há uma resposta possível: a marcação de pontos! Ou seja, é o aproveitamento mais eficaz das oportunidades criadas que caracteriza a vitória.
No jogo entre os neozelandeses dos Crusaders e dos Chiefs a vitória confortável por uma diferença de 14 pontos e 3 ensaios e com uma quota de pontos marcados de 68%, pertenceu à equipa que menos posse de bola teve (33%), menos ocupação de território conseguiu (30%), menos passes fez (98), menos ultrapassagens da linha de vantagem teve (26 contra 68) e apenas realizou metade das rupturas (7) na linha de defesa adversária. Como conseguiu a vitória? Aproveitando as oportunidades que teve para marcar 4 ensaios a que juntou uma defesa de ferro, realizando 156 placagens num total de 186 tentativas para um sucesso de 84%, sofrendo apenas 1 ensaio - o que demonstra uma notável capacidade defensiva alicerçada numa permanente boa leitura com rápida e pressionante subida em defesa e adaptação imediata aos propósitos do ataque e com uma reorganização adequada em movimento, cobrindo-se e apoiando-se uns aos outros numa demonstração de esclarecido domínio da scramble defense.
Pelo contrário e no jogo entre os sul-africanos dos Lions (finalistas de 2016) e os neozelandeses dos Hurricanes (vencedores do Super Rugby 2016), a vitória pertenceu à equipa que mais posse de bola (70%) e ocupação de território teve (71%) e que, embora com menos rupturas conseguidas (10), marcou 6 ensaios contra 4 sofridos para uma quota final de pontos marcados de 60% e uma diferença confortável de 15 pontos. Curiosamente teve uma defesa pouco eficaz com apenas 50% de taxa de sucesso - os seus jogadores, em 44 hipóteses, apenas placaram efectivamente 22 vezes - mas que foi suficiente para parar a criatividade dos neozelandeses que, aliás, se mostraram demasiado impacientes e um pouco desastrosos com erros de controlo e falhanços de passes. A vencer a dois minutos do intervalo por 22-3, os Hurricanes não conseguiram - eventualmente por incapacidade de adaptação à altitude (o jogo realizou-se nos 1750 metros do Ellis Park) - suster a avalanche sul-africana da segunda parte. Se a estas predisposições - a intensidade sul-africana e a dificuldade dos neozelandeses em lidar com a falta de oxigénio - juntarmos o cartão amarelo imposto a Beauden Barrett por ter, ao pretender retirar-se da posição de fora-de-jogo, impedido o adversário de manter a posse e jogar a bola, teremos algumas ideias sobre o que se terá passado dentro do campo na fatídica segunda parte. A jogar contra 14, os Lions aproveitaram os dez minutos para marcar 17 pontos e tomar conta do jogo - com o outro Barret, ainda por cima, a desperdiçar a oportunidade de empatar 32-32 ao falhar uma penalidade.
Destes dois excelentes jogos ficam alguns pontos notáveis:
  • os passes heterodoxos feitos por jogadores das diversas posições a demonstrar que, cada vez mais, está em vigor o princípio de Barry John de "atira que eu agarro", facilitando, pelas linhas de corrida convergentes, a vida ao passador e possibilitando uma cada vez maior fluidez na continuidade do movimento;
  • o jogo ao pé para dentro do campo e suficientemente comprido e apoiado por uma organização que, subindo, pretende obrigar o adversário a chutar muito cedo e colocar-se em inferioridade numérica - porque os seus companheiros estão em posição de fora-de-jogo - e aumentar assim as possibilidades de contra-ataque;
  • a defesa a demonstrar-se muito pressionante e cada vez mais adaptável, antecipando os movimentos adversários, cortando linhas de passe e obrigando o adversário a tempos de paragem com passagem pelo solo e conquistando assim tempos de reorganização;
  • a não desistência dos defensores que, apesar de aparentemente batidos, continuam a lutar - sem esta atitude não há scramble que resista - para impedir o progresso do adversário. Vejam-se as causas do ensaio de Israel Dagg contra os Chiefs;
  • a demonstração de que a criatividade cria problemas insolúveis às defesas como no segundo ensaio dos Hurricanes em que, a partir de um alinhamento e com o ponta Milner-Skudder a receber a bola - atenção que vai penetrar! - Beauden Barret com uma corrida larga e por trás dos seus centros a mostrar uma impressionante aceleração ao endireitar a corrida logo que teve a bola nas mãos e, atacando o intervalo entre o centro e o ponta adversários, obrigando-os a convergir, para entregar o ensaio de bandeja ao seu ponta Goosen. Lindo de ver! De levantar um estádio!
  • a enorme vantagem de uma equipa coesa. A recuperação dos Lions, baseada numa atitude colectiva de grande capacidade competitiva, só é possível numa equipa com grande coesão. A maioria dos jogadores dos Lions joga junta há 3/4 épocas...
  • as Leis do Jogo são para cumprir. Quer num jogo, quer noutro, os árbitros tiveram intervenções que tiveram influência nos resultados finais. No jogo entre neozelandeses e já com o chutador preparado para iniciar a corrida para a tentativa aos postes, o TMO anunciou que não estava confortável com a decisão de validação do ensaio. Vistas e revistas as imagens pôde tirar-se a conclusão de ter havido - mínimo, por um pelinho - um adiantado que invalidava o ensaio. Primeira forma, decidiu o árbitro e formação ordenada no local da falta. E tudo parecia já preparado para o passo seguinte, no entanto... a verdade do jogo mandou voltar atrás. No jogo de Joanesburgo, aos 58' e quando os Hurricanes já faziam das tripas corações, Beauden Barrett,  ao pretender retirar-se da posição de fora-de-jogo num ruck de domínio adversário, arrastou, eventualmente de forma inadvertida, a bola, retirando ao adversário a possibilidade de a utilizar. Acidental mas com prejuízo para o adversário, terá pensado o árbitro. E se o pensou melhor agiu e mostrou o cartão amarelo ao abertura Hurricane, dando disso conta ao capitão de equipa. Nos dois casos o mesmo princípio: as Leis do Jogo são para cumprir! E essa coisa do casual ou acidental só existe se não houver prejuízo para o adversário. Porque a realidade é esta: houve ou não prejuízo? Se houve, a compensação é necessária. E como houve, houve também compensação: penalidade e cartão.
Agora é esperar pelo próximo sábado para - e de novo no Ellis Park - assistir à final entre os Lions e os Crusaders. Favoritos? Ambos como diria o Outro. Mas a Rugby Vision de Niven Winchester (neozelandês, economista no MIT) aposta na vitória dos Lions por 6 pontos de diferença e com 66,8% de hipóteses. Veremos se Kieran Read e o capitão Sam Whitelock estarão pelos ajustes. 

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