sexta-feira, 30 de julho de 2010

O QUE SE PASSA?

Ponto prévio para evitar confusões: aquilo sobre que se escreve está muitos furos acima da vulgaridade das equipas normais.

Como é que se explicam as derrotas da África do Sul? Três jogos, três derrotas, mais de noventa pontos consentidos, onze ensaios sofridos.

O primeiro ponto parece ser este: os jogadores já deram – e deram muito – e não podem dar mais, menos ainda adaptando-se a alguns pormenores técnico-legais hoje exigíveis, como é o caso do jogo no chão. O problema maior: se assim for como encontrar substitutos para diversas posições de forma a garantir a eficácia necessária à defesa do título no Mundial do próximo ano?

Por outro lado existem diversas insuficiências na equipa que a afastam dos rivais, mascaradas nas culpas sobre os árbitros e na indisciplina permanente de diversos jogadores.

A África do Sul tem-se mostrado incapaz de resolver diversos problemas que os adversários têm feito ressaltar: com a bola na mão são previsíveis, não aparecem lançados, arrancam depois de receber a bola e assim, caindo na armadilha do mero ataque físico, incapazes de atacar intervalos, são presa fácil para defesas que avançam a conquistar terreno. E aqui não há dimensão de sequências de fases que altere a eficácia. A África do Sul ataca muros, ao contrário das adversárias – Nova Zelândia e Austrália – que se lançam para um passe feito para ser interceptado, podendo assim atacar os intervalos entre defensores. E daqui resulta uma enorme diferença de eficácia.

A falta de combinações desequilibradoras – apostada que tem estado na passagem em força – é outra das incapacidades duma África do Sul que se tem, classicamente, ficado pelas velhas glórias da formação ordenada e alinhamentos conquistadores – que já não chegam para garantir a vitória nos dias de hoje.

Mesmo em defesa, onde a sua capacidade já foi evidente, os sul-africanos já não são uma fortaleza: a sua blitz já não surpreende e não tem segredos para ninguém e a sua adaptação à defesa deslizante deixa algo a desejar, atrasando-se demasiadas vezes para depois jogar tudo numa recuperação nem sempre possível. Pese a tentativa de alteração das formas de defesa de jogo para jogo, as melhorias foram reduzidas e nunca se impuseram para criar problemas insolúveis aos atacantes adversários.

O jogo em força da África do Sul - e as vitórias assim conseguidas - obrigou as equipas da Nova Zelândia e da Austrália a procurar formas de o contrariar. Felizmente e para bem do Rugby a solução assenta no jogo de movimento. Amanhã, num jogo que está a despertar um enorme interesse, veremos como actuarão as duas equipas mais fortes do sul e como conseguirão adaptar o seu movimento à defesa adversária, que propostas apresentarão, que formas utilizarão. O jogo, via Sport TV, é de não perder.

PODEMOS LÁ CHEGAR?

O Sete de Portugal venceu o Euro da FIRA e o Mundial Universitário. Depois destes resultados o sonho de estar presente nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 aumenta. Temos possibilidades de lá chegar? Temos, mas não será nada fácil e exigirá uma estratégia coerente e sustentada para os próximos seis anos. Porque muitos outros – e não partimos tão à frente como possamos julgar – também pretendem o mesmo, principalmente aqueles que fazem da cultura olímpica um modo de vida.

Os factos: o Sevens é modalidade olímpica daqui a seis anos - 2016 - nos Jogos do Rio de Janeiro e terá doze equipas por género (144 jogadores masculinos e 144 jogadoras femininas) que disputarão um torneio com dois grupos de seis que apurarão os dois primeiros para as meias-finais e que irão disputar as três medalhas tradicionais; o Campeonato do Mundo será disputado na Rússia em 2013; anualmente continuarão a disputar-se as oito etapas que constituem o IRB Sevens World Series.

As possibilidades. A primeira questão: como se fará o apuramento? De acordo com o tradicional e o significado dos anéis olímpicos haverá representantes de cada continente. Sendo um dos apurados o país residente (Brasil), sobram onze lugares para cada torneio. Se a distribuição for absoluta pelos continentes será 3-2-2-2-2 e a questão que importa saber será se o número de três equipas corresponderá à Europa ou à Oceânia.

As dúvidas: na Oceânia existem quatro equipas de grande nível: Samoa, Nova Zelândia, Austrália e Fiji; na Europa, o olimpismo da Grã-Bretanha se reduz o número de equipas, o que parece abrir boas perspectivas de lugar, também cria menos pressão para a atribuição do factor três.

As hipóteses. Face aos problemas que a decisão da distribuição trará, mas cumprindo simultaneamente a obrigatoriedade de resposta aos cinco anéis, a IRB tem como hipótese criar provas de qualificação continentais seguidas, para os cinco lugares sobrantes, de provas gerais de apuramento que permitam definir as equipas mais capazes e assim evitar que boas equipas fiquem de fora com diminuição da qualidade do Torneio.
Nestas perspectivas como pode Portugal garantir o apuramento? Ou garantindo o segundo/terceiro lugares (conforme as hipóteses) ou garantindo um dos cinco lugares gerais. O que não será fácil. Na Europa, com a forte Grã-Bretanha, uma Irlanda que vai querer lá estar, uma Rússia a crescer, a França também a querer (e poder) lá estar, a Itália com possibilidades, a Alemanha a esforçar-se e a Espanha a olhar a variante de outra forma, os lugares para a disputa serão poucos. Se for de outra forma, Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Quénia, Namíbia, China, Fiji, Austrália, Samoa e outros tantos sobrantes daqui e dali não tornarão fácil a vida do apuramento.

Estratégia. Antes de mais conviria que Portugal pudesse disputar, como residente, a Sevens World Series – já este ano ou, no limite, no próximo ano – com resultados capazes, obrigando ao recurso permanente da melhor equipa. O que obrigaria à participação em todas as outras provas possíveis com outros jogadores para garantir a continuidade e dar experiência. O que significaria a necessidade de manter um número razoável de jogadores disponíveis ao longo da época para o Sevens internacional, desligando-os, na grande maioria da época, dos jogos dos seus clubes.
Para uma estratégia com hipóteses de sucesso vale a pena referir que o Sevens interno - para além da exclusão, nomeadamente de gordos, que implicará - não corresponderá nunca às necessidades de preparação para a qualificação olímpica e que a solução que se mostra eficaz obrigará à separação entre a modalidade-mãe e a variante: quem joga uma não se preocupará com a outra. São duas modalidades distintas – uma apela à diversidade enquanto outra à homogeneidade com as consequências daí resultantes – e a mistura entre elas não garante a expressão da excelência de qualquer uma.

O caminho para os Jogos - não sendo impossível - é muito duro: exige visão, excelência, decisão, preparação, informação e dispensa a expressão de propostas e pensamentos ilusórios. 

terça-feira, 27 de julho de 2010

E AS GORDAS?

Pese o inquestionável direito, não acho que o rugby de XV, com as exigências de contacto cada vez maiores, seja o ideal para ser jogado por raparigas. No entanto, ao vê-las a jogar Sevens, com mais espaço e menos contacto mas mantendo as características que definem o rugby – placagens, formações, alinhamentos, bola oval, proibição de passe para a frente – parece-me uma variante que, aproximando-se visualmente do jogo-mãe, se pode adaptar muito bem à dimensão feminina que as equipas poderiam mostrar.

Ou seja: para o rugby feminino, o Sevens parece ser a expressão ideal.

Dito isto, pensando assim, fui chamado à realidade pela posição das jogadoras brasileiras: “Nós? A jogar só Sevens? E então as nossas companheiras gordas com quem jogamos todos os dias, o que faziam?”

De facto o Sevens não pode viver sem a cobertura do XV e as brasileiras vieram lembrar isso mesmo. No Código do Rugby define-se, em Os Princípios das Leis do Jogo e no capítulo Um jogo para todos que: "As Leis do Jogo dão oportunidade a que jogadores de qualquer estrutura física, aptidão técnica, género ou idade possam participar no jogo de acordo com as suas capacidades e num ambiente controlado, competitivo e agradável."

O Sevens, ao contrário desta diversidade, vive da proximidade do perfil morfológico onde não cabem perfis ditos, em padrões estéticos, de menor estampa atlética - as gordas e os gordos. 

Para continuar a ser Rugby, o Sevens precisa de continuar a ser uma mera variante, não o jogo. Mas com uma contradição viva: sendo do mesmo, cada vez mais os que jogam Sevens se vão afastar dos que jogam XV. Tanto quanto se afastaram já nas siglas que os distinguem: Sevens e XV.

domingo, 25 de julho de 2010

Universitários, campeões mundiais masculinos em Sevens

                                       Os campeões universitários mundiais masculinos com as terceiras classificadas universitárias femininas em foto final
Foto de telemóvel
O VII masculino de Portugal ganhou o Mundial Universitário de Sevens disputado no Porto, no excelente Estádio do Bessa XXI – a necessitar urgentemente de uma equipa residente que o possa encher – e sobre uma relva artificial que – sem que ninguém se sentisse ameaçado - permitiu uma permanente qualidade do piso ao longo de todos os momentos e dias da competição. A vitória do VII português foi clara e premiou a melhor equipa: parabéns aos jogadores e treinadores.

A equipa feminina conseguiu um excelente 3º lugar e as suas jogadoras deram mostras de possuírem uma das atitudes que se exigem a quem quer ser campeã: derrotadas na fase de grupos pelo Canadá souberam não repetir os mesmos erros – e esta é a demonstração – para vencerem as canadianas na final. A seguir com atenção.

Aliás o Sevens feminino português – se bem orientado em termos organizativos e com a estratégia adequada – pode aproveitar bem a janela que se abre com a introdução do Sevens nos Jogos Olímpicos. Pese embora o ter ainda que contar com adversárias que os países de grande cultura olímpica irão construir nos próximos quatro anos, não existem actualmente mais do que quatro/cinco equipas de outra galáxia no mundo e a equipa portuguesa, se conseguir encontrar atletas – e o campo das quatrocentistas do atletismo é uma boa base de recrutamento – com velocidade suficiente para fazerem a diferença, pode aproveitar a oportunidade. 

A falta de uma sprinter terá sido o maior problema das universitárias portuguesas neste Campeonato do Mundo e que impediu a concretização de situações tacticamente muito bem criadas. O outro problema – a frequente insistência da continuidade do ataque pela zona central quando os desequilíbrios conseguidos impunham o recurso ás faixas laterais – será resolvido com o tempo e com a – se pretendermos ter qualquer hipótese de chegar ao Rio de Janeiro – absolutamente necessária participação internacional constante.

sábado, 24 de julho de 2010

As vitórias All Black

O facto parece evidente: a equipa da Nova Zelândia é constituída por jogadores de elevado nível individual quer técnico, quer táctico. E que conseguem um também nível elevado de comportamento técnico e táctico colectivo. E por isso ganham. Claro! mas também se pode dizer que o seu adversário, África do Sul, é de elevado nível. Então como explicar que – entre duas boas equipas – a Nova Zelândia tenha conseguido duas vitórias por grande diferença e sem margem para dúvidas?

A primeira diferença notável diz respeito à dimensão táctica, colectiva e individual, que os jogadores neozelandeses demonstram e que lhes permite perceber a criação de oportunidades e a sua adaptação imediata à situação. Ou seja, num repente, um colectivo de jogadores percebe que está criado o momento a explorar e, sem hesitações, adaptam-se eficazmente à situação para explorar e aumentar o desequilíbrio detectado. E, ao contrário das outras grandes equipas que apenas conseguem envolver dois, três jogadores, a leitura de jogo da equipa neozelandesa parece ser despoletada por um qualquer toque de campainha que permite a envolvência de todo o colectivo – mesmo daqueles que, por mais distantes, não têm participação directa na acção: mas que se colocam de acordo com “o que vai acontecer a seguir?”. Nestes momentos é um imenso prazer ver a evolução do jogo All Black.


Outra diferença considerável demonstrada nestes jogos vitoriosos esteve na capacidade defensiva: sempre avançando a conquistar terreno – deixando raras vezes o adversário ultrapassar a linha de vantagem e retirando tempo e espaço à manobra adversária – e realizando as placagens e preparando logo na forma do contacto a recuperação da bola. Se a este aspecto juntarmos a excelente adaptação às novas interpretações das Leis, temos a chave para as vantagens conseguidas: recuperações de bolas com imediata organização ofensiva, jogando ao largo e de acordo com a melhor exploração da desorganização defensiva conseguida.


No reverso - se em posse da bola e blocados defensivamente - é notável a organização de apoio – o eterno losango - que permite rucks muito rápidos a apanhar a defesa numericamente desajustada e a permitir o jogo ao largo de passes longos.


Nem sempre é possível perceber as posições dos jogadores no terreno através do ecrã da televisão. Desta vez – no último jogo – foi possível ver as linhas de corrida de McCaw e a sua eficácia, a forma como acelera para apoio imprescindível na conquista ou recuperação ou ainda como fica, disponibilizando-se para receber qualquer passe ou para dificultar as decisões ofensivas.


Também impressiona a capacidade defensiva de Conrad Smith: dando diversas vezes o lado de fora – protegendo assim a tentativa de ataque ao ombro interior – o centro neozelandês mostra sempre a capacidade para derrubar o opositor mesmo se parece ultrapassado. Uma segurança enorme - e uma lição defensiva para qualquer centro.


Repito: há momentos que é um gozo enorme ver esta equipa All Black a jogar.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

MAIS DO QUE MIL PALAVRAS

A Escolinha de Rugby da Galiza - por mão do Pedro Cabral - visitou há dias a Selecção Nacional de Sevens.

A marca deixada pela visita perdurará na memória dos miudos durante muito tempo como um momento importante dos sonhos das suas vidas. O papel pioneiro desempenhado pelas Escolinhas de Rugby da Galiza é reconhecido e o seu exemplo abriu portas que, felizmente, estão a ter sucesso nos mais variados lados. Já o disse e repito-o: o Desporto em geral e o Rugby em particular são excelentes instrumentos de integração social... basta ver o contentamento do portador da bola (e autor da reportagem http://escolinhaderugbydagaliza.blogspot.com/) a caminho do ensaio.

A multiplicação destas oportunidades - contactos com as elites das modalidades desportivas e criação das possibilidades básicas para a sua prática - constituem formas essenciais (e socialmente obrigatórias, diria) de desenvolvimento das modalidades a que o Desporto não pode ficar indiferente.

    A fotografia pertence à reportagem sobre o acontecimento do Zézinho das Escolinhas de Rugby da Galiza

terça-feira, 20 de julho de 2010

UM JOGO COM HISTÓRIA

O rugby nasceu no final do primeiro terço do sec. XIX (1823) com um gesto – acto de audaciosa criatividade diz o Código do Rugby – de William Webb Ellis que, durante um jogo de futebol na Escola da cidade de Rugby, pegou uma bola com as mãos e correu com ela – provavelmente preparando-se para reivindicar golo. Verdade, exagero ou ficção pouco se sabe de facto. Sabido, sabido, é que as primeiras regras se publicaram em 1845, também em Rugby, e que o primeiro jogo internacional se realizou em Edimburgo, entre a Inglaterra e a Escócia, em Março de 1871.

De então para cá o jogo tem mudado. Em 1995, com a introdução do profissionalismo abriu-se uma nova etapa, diversas mudanças - algumas quase imperceptíveis  resultaram de alterações às regras. Mas mantiveram-se sempre os mesmos princípios fundamentais que fazem do rugby um jogo único.
Nem sempre se conhece a história da modalidade, do seu desenvolvimento e dos porquês de cada mudança. E, erradamente, julga-se que a modalidade se desenvolveu em saltos bruscos, rupturas descontínuas ou invenções que alteraram a substância do modo de jogar. E que o que se vê hoje, nasceu no dia anterior. Não é assim e o conhecimento da história do jogo permite compreender melhor a realidade escondida da modalidade. E jogá-la, treiná-la ou apreciá-la melhor.


Num livro que tenho - LE FOOTBALL (edição Pierre Lafitte & Cie, Paris, 1910) - na parte sobre Rugby encontrei - nas recomendações aos aberturas -  um desenho que indica o pontapé-diagonal como uma táctica para ultrapassar defesas bem organizadas e que subam muito. Ou seja, aquilo que hoje muitos julgamos como uma descoberta táctica recente já era conhecida há UM SÉCULO!
Coisas da História...
Créditos: a foto da estátua de William Webb Ellis foi retirada do site rugbyfootballhistory

terça-feira, 13 de julho de 2010

JUSTIÇA ESPERADA

Como esperava, Bakkies Botha foi castigado. Nove semanas sem poder participar em qualquer jogo de rugby é o resultado da estúpida agressão à cabeçada sobre Jimmy Cowan. E não foi preciso ser visto pelo árbitro: foi citado pelo comissário da SANZAR e tanto bastou. De nada lhe valendo os pedidos de desculpa posteriores, vai ver a totalidade do TriNations pela televisão.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

VENCEDORES DO SEVENS EUROPEU

O VII de Portugal ganhou o denominado Europeu de Seven's. Parabéns aos jogadores e treinadores! Ganhar é sempre bom e, mesmo que não se trate de uma prova do máximo nível - o próprio nome do campeonato deveria traduzir o nível competitivo em que se insere para evitar confusões - tem o nível necessário para ser considerada como boa vitória.

Gostaria no entanto de lembrar que este facto - tanto quanto se sabe porque se sabe pouco - não abre qualquer porta directa de entrada para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E que, portanto, deve haver o comedimento necessário a que não nos deixemos embandeirar em arco. Esta vitória é boa em si, ponto. Não consta que estabeleça níveis seja para o que for.

Não deixando de achar estranho o facto de não se conhecer qualquer comunicação oficial sobre a forma da qualificação olímpica, lembro que o importante para o desenvolvimento do rugby português se situa nos resultados do rugby de XV e na prestação competitiva do próximo Europeu das Nações 1A cujos adversários - para além da vizinha Espanha - se localizam do outro lado do centro europeu: Geórgia, Russia, Roménia e Ucrânia. E que, dois deles com um terceiro a caminho, estão apurados para o próximo Mundial. 

JUSTIÇA

Ao longo dos séculos a civilização construiu e estabeleceu diversos princípios comuns daquilo que hoje designámos por cidadania. Obrigando-nos, com eles vivemos e com eles conseguimos uma vida melhor, de respeito mútuo e maior harmonia, tentando garantir que os preconceitos não tomem conta do nosso quotidiano.

Um desses princípios de cidadania impõe-nos que não façamos justiça pelas próprias mãos.

Princípio que se aplica, naturalmente, ao desporto - a expressão civilizada do confronto - em geral e ao rugby em particular, cujos valores característicos assim o exigem. Nenhum jogador, passe-se o que se passar, está autorizado a fazer justiça pelas suas próprias mãos – para isso existe um árbitro e, depois, toda uma estrutura directiva – constituída por diversos órgãos institucionais – que deverá tratar do assunto de acordo com as normas e regras estabelecidas.

No recente Nova Zelândia-África do Sul, o segunda-linha sul-africano Bakkies Botta agrediu com um despropositado e desajustado golpe de cabeça a nuca do formação neozelandês Jimmy Cowan, pretendendo responder – impondo a justiça das suas próprias mãos – a um puxão de camisola. O árbitro não viu, o jogo continuou mas a televisão mostrou por diversas vezes a agressão. Dir-se-á – na distorsão típica da visão macho/marialva – que, pelo menos, valeu a pena: o outro ficou avisado… Para além da óbvia desproporcionalidade (cabeçada v. agarrar de camisola) é também óbvio o abuso e o nenhum respeito pelo espaço de confronto leal e de acordo com as regras que é o jogo. E não deve ficar impune.

Ficarei muito admirado que, dentro de dois ou três dias, não surja a notícia do castigo imposto pelas autoridades desportivas que superintendem ao Três Nações. De facto não pode valer a pena!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

TREINOS A 1 DE AGOSTO?

Durante o passado mês de Junho – na chamada janela de verão – dezassete das vinte equipas primeiras classificadas no ranking IRB estiveram em acção em diversos pontos do globo. Portugal que no início do mês estava em 20º lugar – desceu uma posição durante esse período – não participou em qualquer actividade de XV e dedicou-se ao seven’s.

Há anos atrás o torneio - Nations Cup - que envolve as selecções da segunda-linha europeia teve a sua primeira realização em Lisboa. Por razões que desconheço deixámos fugir o nosso posicionamento. Erro de perspectiva ou azar puro e simples – quem manda não quis saber de nós? Deixando de fazer parte do grupo, deixamos fugir uma oportunidade. Que dificilmente se repetirá mas que os nossos adversários directos, na Europa e nas qualificações para os Mundiais, aproveitam, jogando, ganhando experiência, aproximando-se do primeiro grupo... e afastando-se de nós que... jogávamos seven’s. 
Ao certo, ao certo, não percebo bem qual a estratégia seguida para garantir um posicionamento adequado no XV. Lá para Fevereiro veremos eventuais e directas consequências. Na janela de Novembro começaremos a percebê-las.

Foi só no final de Maio e princípio de Junho que terminaram os campeonatos de França e de Inglaterra – e também o Super 14 – e se podemos admitir que se trata de uma época demasiado comprida – os maus resultados obtidos no Hemisfério Sul podem ter nisto parte da sua causa – tenho alguma dificuldade em perceber as vantagens estratégicas da recente redução proposta pela direcção da FPR. Não conhecendo explicações, só posso estranhar a proposta publicada no site: compreendo mal um campeonato que se inicia na terceira semana de Setembro e que termina a sua fase regular a 19 de Dezembro com a final marcada para o terceiro fim-de-semana de Janeiro. Setembro a Janeiro. Depois umas selecções regionais e uma taça Super Bock de que desconheço os moldes e com fecho para a maioria dos jogadores na segunda semana de Maio e espaço para actividades da selecção nacional na janela de Junho.

Nas aparências até pode parecer bem: redução temporal da época, libertação de espaço para os compromissos internacionais e realização do campeonato antes da disputa do Europeu B (possibilitando uma melhor preparação dos jogadores, é o chavão usual…). De facto, os internacionais – de acordo com o calendário apresentado - não participarão em três jornadas, pelo menos, do campeonato nacional (continuando embora, o nacional a ser a prova mais importante da época). Mas terão quase dois meses de intervalo até aos compromissos internacionais - se existirem - de Junho... Então para quê a pressa? Intencional ou não, só pode servir para uma causa: permitir maior recurso a jogadores estrangeiros por diminuição do tempo de despesas numa preocupação igualitária de oportunidades, proporcionando a versão económica do equilíbrio competitivo. E neste falso equilíbrio competitivo de desequilibrado calendário, pergunta-se: que vantagens para o desenvolvimento e competitividade do rugby português?

E se este calendário propõe mais do que duvidosos benefícios - sem que se percebam hipóteses sustentáveis de melhoria competitiva - ainda se acrescentam preocupações sobre as consequências da data do seu início. Começando a meio de Setembro o campeonato, os clubes serão obrigados a iniciar os seus treinos a 1 de Agosto – seis semanas antes do início da principal competição é o mínimo espaço de tempo necessário para dar as consistências necessárias a uma equipa competitiva. Pergunto: é possível contar com jogadores amadores para começar treinos no início de Agosto? Porque, se não for, a factura da má preparação, tarde ou cedo, se pagará. E o campeonato tenderá para pior nível.  

terça-feira, 6 de julho de 2010

TREINADORES 1º GRAU

No passado sábado fui fazer uma comunicação ao Curso de Treinadores de 1º Grau, organizado pela Associação de Rugby do Sul. Os temas – para além de ter falado da missão dos treinadores e chamado a atenção de ser o papel do treinador de jovens o de formar jogadores de futuro e cidadãos responsáveis – foram Rugby, o Jogo da Batalha Medieval e o Código do Jogo. Pude ver, no pouco que pude assistir no terreno, futuros treinadores muito interessados e com preocupações próximos das máximas fundamentais que devem reger o treino: treina-se como se joga e aprende-se a jogar, jogando. E pareceram-me suficientemente interessados nos temas que apresentei. Com este aumento de conhecimentos – muito por via da regulamentação das carreiras de treinadores - o futuro rugbístico português, se não houver demasiados disparates organizativos, pode ser interessante e mais alinhado, de uma ponta à outra, com o que se passa nos países mais avançados.

Mas verdadeiramente interessante foi ter lá encontrado a Maria Gaivão – a grande responsável pela notável e percursora iniciativa do projecto da Galiza – do lado dos treinadores. E foram muito agradáveis as palavras com que falou deste site, considerando-o importante para o trabalho que desenvolve. Para quem, como eu, que considera - e tenta convencer que pode - que se obtêm melhores resultados (e se abrem maiores oportunidades) na inserção social através do desporto em geral e do rugby em particular – que tem especificidades que o tornam especialmente adequado neste campo – foi bom ouvi-lo.

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