quinta-feira, 25 de março de 2010

RUGBY, O JOGO DA BATALHA MEDIEVAL




















(ver o texto O JOGO DA BATALHA MEDIEVAL, quarta-feira 28 de Outubro de 2009)

segunda-feira, 22 de março de 2010

FINAL DA TAÇA

O jogo, entre CDUL e Agronomia, foi interessante – dos melhorzinhos da competição interna - e a maior parte dos jogadores internacionais (pelo menos os que jogaram pela selecção ou que já partiram para Hong-Kong) ficou de fora. O que significa que a tese de que os internacionais têm que jogar pelos clubes é uma verdade relativa – o desenvolvimento pode assentar noutras bases.

D. SEBASTIÃO É UM MITO

A ansiada chegada de D. Sebastião numa manhã de nevoeiro para salvar o país do jugo castelhano não passa, como sabemos, de um mito. A necessidade de uma tábua de salvação para garantir a sobrevivência no mar alto e revolto só faz sentido se permitir a flutuação. Dito isto, também se sabe, da evidência dos desportos colectivos, que a derrota não é culpa de um só jogador como a vitória também não surge da capacidade única e individual. Vitórias e derrotas pertencem ao colectivo, à equipa. E as suas melhorias devem ser procuradas de acordo com as suas necessidades e com os adversários que se defrontam.

O jogo com a Roménia até começou bem: um pontapé de 58 metros como nunca se tinha visto em Portugal num jogo deste nível. Depois, como em sol de pouca dura, começaram os disparates numa sucessão de erros sistemáticos.

Tacticamente jogámos ao contrário – um amigo meu, comentava: há algo trocado, nós parecemos romenos e eles parecem nós! – atacando a linha defensiva no Canal 1, facilitando a vida aos seus pesados avançados. No fundo, em ataque ou defesa – aqui fechando demasiado – aproximamos sempre o jogo dos avançados adversários, atacando pelos seus pontos fortes e não procurando os seus fracos. Junto à linha de ensaio romena repetimos – ignorando uma das regras dos campeões de nunca os repetir - o mesmo erro cometido contra os georgianos: a insistência na passagem em força - procura egoísta de notoriedade, falta de comando táctico? - quando o espaço de circulação existia. Desfocados do jogo, nunca exploramos o enorme espaço deixado vazio atrás da defesa – esquecemos os pontapés rasteiros – não percebendo que a pressão e deslize defensivos da Roménia se baseavam no aumento do número de jogadores da linha (e, como se sabe, os jogadores são como os lençóis: se cobrem o pescoço, destapam os pés…). Jogamos 7 ou 8 minutos contra treze adversários e nada mudou – a sensação do exterior é que nem se reparou – tão pouco o uso da 3ª linha para saídas da formação ordenada... em algum sítio teriam de faltar os “amarelados”.

Claramente faltou-nos a inteligência do momento para perceber, reagir e adaptar eficazmente o colectivo às situações do jogo. Assim, a vitória romena surgiu com naturalidade. Merecidamente: jogaram mais, resolveram os poucos problemas que lhes criámos, utilizaram eficazmente as oportunidades. E defenderam bem, atacando a linha e desmultiplicando-se convenientemente.

É claro que a nossa não qualificação não aconteceu aqui: começou na primeira derrota com a Rússia – o nosso verdadeiro adversário numa análise fria e objectiva. Talvez até que a nossa não qualificação tenha começado numa ilusão de valor e capacidade que nunca atingimos e que a falta de competitividade interna nunca permitiria atingir a experiência necessária ao acompanhamento da melhoria dos adversários. Porque a realidade é esta: eles melhoraram, nós estacionámos. E o rugby português nunca pareceu querer ter uma grande perspectiva desta percepção... e assim deixámos que o rugby menor de georgianos ou russos atingisse a proximidade que lhes permitiu as vitórias e a qualificação.

E agora? Como vamos garantir o desenvolvimento futuro? Vamos procurar os meios competitivos para nos qualificarmos para 2015 ou vamos continuar a esperar que os lugares nos caiam do céu?

sexta-feira, 19 de março de 2010

A IRB PERCEBEU

Do que sei, a IRB percebeu o significado da derrota da Espanha contra Portugal. Para quem tem usado a arrogância como forma de vizinhança rugbística, vai haver surpresa…enorme.

PORTUGAL-ROMÉNIA, PRIMEIRA FINAL

A Roménia vem com a armada toda. Ninguém – com o Mundial à vista – apresenta estados de alma sobre jogadores internos e externos. Formam a equipa mais capaz. Ponto.
E contam, como desde sempre, com os apoios invisíveis – não esqueço, no último Mundial, a troca de olhares cúmplices de preocupação entre Baquet (presidente da FIRA-AER) e Antonin (eminência parda de uma certa forma de estar no rugby, há alguns anos ao serviço dos romenos).
A tarefa de Portugal para continuar a caminho da Nova Zelândia não é fácil. Nada fácil mesmo. De uma exigência brutal para o cinco-da-frente – de quem, já o disse, dependerá a vitória – e de um elevado nível de exigência para todos os outros.

A questão táctica será importante na construção do resultado. Os pontos fortes dos romenos são reconhecíveis e habituais: bloco de avançados forte, pesado e exímio no maul dinâmico, bom jogo ao pé – comprido e, normalmente, tacticamente correcto. Mas os seus três-quartos, embora fortes e com poder, não têm qualquer qualidade especial – o jogo de passes não é nem muito rápido, nem suficientemente fixador: faz parte do trivial movimento lateral que passa bola e adversário. Defensivamente são capazes no homem contra homem mas têm sempre dificuldades em desmultiplicar contra atacantes que os fixem e deixam espaços vazios exploráveis no jogo ao pé – principalmente rasteiros e nas costas – se jogados na cara dos defensores.

Como se joga contra estes fortes e estes fracos?. Estrategicamente é fácil: não deixando ocupar a nossa área de 22 – aí sentem-se em casa com a possibilidade de aplicar a força do maul; levando-os a circular a bola e impedindo o jogo para o interior. No fundo, colocar o início do seu jogo na distância onde o jogo ao pé faça pouco sentido e o recurso ao maul esteja ainda demasiado longe da linha de ensaio para fazer sentido – ali para o intervalo central dos dez metros. E jogar tudo nas bolas recuperadas.

Tacticamente, a coisa fia mais fino: tirar a bola da nossa área de 22 com jogo ao pé para fora do terreno – atacar no alinhamento e pressionar, contrariando a facilidade romena do jogo ao pé e organizando a subida defensiva de forma diferente do habitual. Normalmente a defesa portuguesa defende com o 2º centro em cunha – desta vez deverão fazer a defesa ao contrário, abrindo o lado de fora, propondo a circulação da bola. Assim: subida sem grande rapidez na zona 1 e 2, atraso na zona 3 para depois, aplicar uma tenaz em superioridade numérica e com a ajuda da linha lateral, com o objectivo de recuperar a bola longe dos avançados romenos. Um tipo de defesa “aberta” que o Stade Toulousain utiliza diversas vezes como alternativa.

O jogo vai, para além da importância de que se reveste, ser muito interessante de um ponto de vista da inteligência táctica – a forma e eficácia das adaptações necessárias. A experiência dos jogadores portugueses, a sua capacidade defensiva no homem-a-homem, a boa capacidade que têm demonstrado no jogo envolvente – reconhecendo rapidamente as melhores linhas de corrida, e com boa visão periférica para criar o apoio necessário – são qualidades que nos permitirão chegar à vitória. Que, repito, dependerá da capacidade e eficácia dos forçados da equipa: o seu cinco-da-frente. Que sei disponíveis para deixarem a pele em campo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

PLACAGEM

“Para mim as placagens que faço têm dois objectivos: o primeiro, não deixar avançar o portador da bola, mas também para lhe dizer que é escusado tentar ir por ali. Parámo-lo e dizemos-lhe que não vale a pena tentar mais nenhuma vez.”
Mathieu Bastareaud, internacional francês, ao Sunday Times de 14/03/2010

GANHAR CONFIANÇA

O XV de Portugal fez o que lhe competia: derrotar a Espanha por números (33-15) que não deixam dúvidas algumas – será que a IRB vai perceber?...

Os Lobos fizeram uma boa 1ª parte em que, com um médio-de-abertura como Pedro Cabral a atacar a linha-de-vantagem, as sequências – mesmo com as iniciais dificuldades nas formações-ordenadas – foram sempre interessantes de um ponto de vista do movimento e perigosas no desequilíbrio da defesa adversária. E a ocupação do meio-campo adversário – possibilitando espaço nas costas para correr riscos de forma mais segura – existiu. Não se podendo, bem pelo contrário, dizer o mesmo do público madrileno que, passado o primeiro milho, não se ouviu mais.

O terceiro ensaio, de Frederico Oliveira que meteu sete espanhóis no bolso, foi um tratado de iniciativa individual (este jogador, logo que atinja uma maior maturidade táctica e se não houver deslumbramentos, será um caso sério do rugby nacional) e matou a disputa pelo resultado.

Com um bocadinho mais de exactidão – percepção, antecipação e adaptação das linhas de corrida – no tempo de apoio, a Espanha não teria sabido qual o papel que lhe competia desempenhar (a cara de Umaga na bancada pedia insistentemente que o tirassem daquele filme…). E não fora os dois momentos em que os jogadores portugueses se desligaram de Madrid, deixando ao deus-dará a organização defensiva devida e deixando-se sonhar em Lisboa a derrotar romenos, os espanhóis teriam saído de casa de rastos.

E sábado? Este resultado mantém a confiança elevada. O que é bom. Mas a vitória contra a Roménia dependerá do cinco-da-frente da equipa portuguesa ser ou não capaz de todos os sacrifícios. Neles residirá – note-se ou não das bancadas – a criação das condições que levarão à vitória. Sábado para as primeiras-linhas e bases será necessário um jogo sem retorno num daqueles momentos de nunca deixar um companheiro para trás. É a vossa vez, meus caros!

sexta-feira, 12 de março de 2010

OCUPAR MADRID

Há cerca de 300 anos (1706), D. António Luís de Sousa (1644-1721), 2º Marquês de Minas, conquistou Madrid. Com um exército de 14.700 portugueses e 4.200 anglo-holandeses e depois de uma viagem de 500 quilómetros – no que, ao que se diz, foi acompanhada por uma bela jovem, sua amante, que, para não dar nas vistas, se fardava de soldado e que acabou por morrer numa das batalhas (Almanza) do caminho – o octogenário comandante ocupou a capital espanhola durante 40 dias em que fez aclamar Rei de Espanha o Arquiduque Carlos de Habsburgo de acordo com o objectivo da expedição. Ocupação que, também ao que consta, não terá durado muito mais porque as mulheres públicas das ruas madrilenas fizeram um trato para dar cabo da soldadagem, indisciplinando-os nos jogos de copos e sexo – para além, como se refere, da transmissão de algumas doenças…

À selecção nacional – também ela recheada de portugueses de diversas origens – não se pede tanto tempo nem qualquer outra preocupação que não seja o jogo, o combate, a bola, a conquista de terreno e a marcação de pontos, mas pede-se que conquistem Madrid com a ocupação – durante os oitenta minutos do jogo de sábado – do meio-campo espanhol e sem se deixarem contaminar por qualquer ilusão de facilidades.
No fundo, que se pede? Que ganhem o jogo contra a Espanha por um resultado que permita encarar a final contra a Roménia com a confiança necessária para garantir a vitória. E trazer a Nova Zelândia para mais perto.

quarta-feira, 10 de março de 2010

GANHAR EM MADRID

Espanha-Portugal. Portugal e Espanha. Seja onde for e seja qual for a ordem é sempre um jogo aliciante, difícil. Mesmo se Portugal joga para a presença no Mundial e a Espanha para coisa nenhuma. Pouco importa, no rugby é diferente: é sempre um jogo colectivo de combate. Sem condicionalismos prévios.

Vai ser, como sempre uma luta terrível que ninguém quer perder – pela rivalidade que a Península marca, que a História ampliou e o Mar na frente nos obriga. Para mais quando a glória da vitória garante o sorriso intemporal da memória.


Portugal pode ganhar?

Não só pode, como deve e sem margem para dúvidas. A jogar largo e eficaz. Atacando intervalos em penetrações apoiadas e desequilibradoras. Dominando o espaço, conquistando terreno. Para encarar a final contra a Roménia com a confiança necessária à vitória.

Se Portugal quer mesmo ganhar deve ocupar o terreno e jogar no meio-campo espanhol. Porque o core mantém-se: jogo colectivo de combate organizado para a conquista de terreno.

A Espanha, em casa e sem receios, vai tentar jogar bonito – dar uma alegria aos seus adeptos, como se diz. E a melhor maneira de lhe destruir o à-vontade e a presunção é criar-lhe uma pressão territorial tal que o apoio do público se torne no seu pior aliado. Assim: confinados ao seu meio-campo, sem recuo, vão tentar jogar mais do que aquilo que podem e cometer erros. Que a defesa portuguesa pode aproveitar e traduzir em pontos.

O XV de Portugal deve, acima de tudo, impor-se no domínio territorial, jogando ao pé para conquistar terreno, lutando por cada posse de bola e então – só então – jogar largo, rápido, utilizando a largura do terreno. O resto virá por acréscimo.

(fotografia de Miguel Rodrigues)

domingo, 7 de março de 2010

A COMPETITIVIDADE INTERNA



A selecção portuguesa deveria, em Novembro e no início dos jogos internacionais, estar a jogar como está hoje quando se prepara para o jogo com a Espanha. Oito jogos depois - três na "janela" de Novembro, dois contra equipas inglesas no princípio do ano (a que se pode juntar o jogo-treino com a Inglaterra) e três do Europeu das Nações - o XV de Portugal começa a demonstrar em campo as suas capacidades. E assim aplicou o devido correctivo à Alemanha.

Mas, se pretendemos ser internacionalmente competitivos não podemos esperar que a rodagem internacional nos vá dando a condição necessária às vitórias. Devemos entrar nos jogos internacionais já com o nível competitivo elevado que nos permitirá acrescentar valor - é para isso mesmo que servem os jogos internacionais e não, como é hábito no futebol caseiro, para preparação.

Contudo, para que possa ser assim, é necessário fazer alterações competitivas internas - isto é, aquelas em que os nossos internacionais participam - que possibilitem a condição necessária para o nível internacional. Para o que é preciso uma maior competitividade, uma maior pressão, um maior empenho e superior atitude. Um maior EQUILÍBRIO!

Repare-se no nosso campeonato interno - veja-se o gráfico.

Na época 2008/2009, na fase regular a diferença entre pontos marcados e sofridos entre o 4º e o 5º classificados foi de 468 pontos!!! Na época actual e com 86% da totalidade de jogos já disputada, a diferença entre os mesmos 4º e 5º classificados já se contabiliza em 395 pontos, sendo a diferença entre a equipa com menor diferença positiva de marcados e sofridos para a que tem menor diferença negativa de 339 pontos. É possível preparar jogadores para o nível internacional com estes desequilíbrios competitivos? Claro que não! Sendo a evidência tão óbvia, é confrangedor a indiferença do rugby português. E o brilho do futuro é um engano..

Veja-se o segundo gráfico. Há jogos que são autênticos passeios para as melhores equipas - sem qualquer tipo de competição aceitável.


Na época 2008/2009 metade dos jogos disputados tiveram derrotas com diferenças de 30 ou mais pontos. Nesta época e nos jogos já disputados, o número está em 23% - menor mas, para além de ser já elevado (corresponde quase a 1/4 dos jogos), só será comparável no final do campeonato. Na época passada, em 75 % dos jogos houve equipas que beneficiaram de pontos de bónus por terem marcado 4 ou mais ensaios; mas apenas em 11% dos jogos houve equipas que beneficiaram de ponto de bónus defensivo por terem sido derrotadas por uma diferença menor do que 8 pontos.. Nesta época já temos 60% dos jogos efectuados com ponto de bónus atacante e e 19% dos jogos com equipas a beneficiarem de pontos de bónus defensivo. Há, nesta época, mais jogos com diferenças de resultados no intervalo entre os 7 e os 15 pontos - 48% contra 13%. Parece haver melhoria, dir-se-á. Mas basta seguir os jogos - há falta de estatísticas qualitativas - para se perceber que o equilíbrio, a haver, se deve ao alinhamento por baixo - basta contabilizar, no uso da bola, o número de vezes que as equipas conseguem passar a linha de vantagem).

Porque se esta ligeiras melhorias representassem verdadeiras melhorias da qualidade do nível competitivo, Portugal não teria perdido contra a Rússia e a Geórgia. Porque, se temos dificuldades para "ombrear" no cinco-da-frente, em capacidade de " jogo jogado" - como se usa dizer futebolisticamente - do núcleo de élite que compõe a selecção nacional, somos superiores: sabemos usar e aproveitar melhor as bolas de que dispomos. Temos uma cultura rugbística superior.

Mas perdemos os jogos que devíamos ganhar: não faz isto espécie a ninguém?

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores