sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Haja luz!


Pouco depois de ter colocado o post sobre a falta de luz no campo de rugby do Jamor, soube que surgiu luz capaz. Claramente não por efeito do post – mas porque assim aconteceu. E agora já há um mínimo de condições para que todos vejam a bola e se vejam dentro do campo – e nós, nas bancadas, vê-los a eles. A partir daqui é com os jogadores.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Jogo da Batalha Medieval


O râguebi é um jogo simples. Tão simples que mais parece um jogo de batalha medieval.

De cada lado do campo, um castelo — a área de validação — com uma torre de menagem — os postes. O objectivo do jogo consiste em conquistar um dos castelos, colocando a bandeira - a bola - no seu pátio interior o que, em termos do jogo, significa marcar um ensaio. Ensaio a que se segue a possibilidade da “transformação” — pontapé colocado — que mais não simboliza do que o bombardeamento da torre para, impossibilitados de manter a ocupação, impedir a sua reutilização pelo derrotado.

Para o desenvolvimento desta batalha, as equipas dispõem das clássicas forças que compõem os exércitos: uma infantaria — o bloco de avançados — uma cavalaria —, os três-quartos —, uma artilharia, formada pelos pontapeadores e uma dupla de estrategos — os dois médios. Como na batalha, à infantaria competirá atacar as linhas defensivas adversárias, desorganizando-as e criando rupturas por onde se possam fazer avanços — as penetrações — que obriguem as defesas a deslocar elementos de outros terrenos para tapar as brechas. Conseguido isto, é altura de lançar, na exploração do sucesso obtido, a cavalaria que, em desfilada, ataca o espaço livre e procura atingir o interior do castelo.

Quando, por boa organização defensiva, a infantaria se mostra incapaz de cumprir a sua missão, compete aos estrategos deste exército recorrer à artilharia — jogo ao pé — para, bombardeando o campo adversário, obrigar ao recuo das suas linhas de defesa.

Ganha esta batalha quem mais vezes conquistar o castelo adversário. O que se consegue através de uma infantaria poderosa, organizada e conquistadora, de uma cavalaria rápida e acutilante e da capacidade dos estrategos de decidirem, em tempo útil, pelas alternâncias de ataque — penetrante, envolvente ou de bombardeamento — que as forças do seu exército proporcionam. No jogo do râguebi, traduz-se assim essa estratégia: “são os avançados que ganham os jogos, restando aos três-quartos afirmar por quantos.”.

Publicado no Público, Lado Aberto, 1995 por ocasião da Taça do Mundo

E a luz?

Fui ver o jogo-treino da Selecção Nacional no Estádio. Bem…ver é uma força de expressão. A luz é tão fraca e tão desequilibrada que o quem é quem? se transforma numa adivinha. Convenhamos: não são condições de treino para uma selecção que é 20ª no ranking mundial e que se prepara para conquistar nova presença numa fase final de um Mundial.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bola fora ou bola dentro?

Em jogo recente houve muitas dúvidas sobre se a bola, a voar sobre a linha lateral e com jogador a tentar recuperá-la, estaria, ou não, jogável. Mostro a síntese das hipóteses.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

RUGBY, UM JOGO PARA GENTE BEM-EDUCADA



Nós, gente do rugby, gostamos, mostrando o diferente que nos sentimos, de publicitar a definição do jogo no conceito “um jogo de rufias jogado por gente bem-educada” – já não por cavalheiros porque, como também sabemos, os homens não são únicos na modalidade.
E há toda uma profunda razão para o definirmos assim. Desde sempre o jogo de rugby tem uma ética própria subordinada a um conjunto de valores que se estabelecem no seu “Código do Jogo”. De facto, existe toda uma maneira de estar que se pretende diferente e tradutora de uma cultura distinta em que o respeito, o “fair-play”, o espírito colectivo de equipa, o companheirismo, a abnegação, a boa educação constituem algumas das componente de valores e atitudes que formatam a envolvente do jogo.
E assim sendo, é natural que possamos utilizar, com orgulho, a marca da diferença – um amigo meu, médico e frequentador internacional de estádios de futebol, viu, pela primeira vez, um jogo de rugby no França-All Blacks do centenário da FFR: não julgava possível, dizia, a confraternização permanente entre os espectadores adversários que o rodeavam. Espantado, tornou-se adepto.
Mas se pretendemos sê-lo, devemos, no mínimo, parecê-lo. E o que se passa à volta dos nossos campos em dia de jogo não pertence a este mundo idílico que pretendemos transmitir aos de fora. Espectadores, antigos jogadores na sua maioria, insultam árbitros e adversários, chamam nomes a quem bem querem e comportam-se como rufiotes numa constante demonstração arruaceira, deixando - para inglês ver – a proclamação da pretendida boa educação.
O jogo de rugby não é fácil de gerir. Os árbitros, como os jogadores, têm dificuldades na análise da sequência pela rapidez da acção e pelo número de intervenientes. Mas próximos e se pertencentes ao mesmo patamar, vêem melhor e analisam quase sempre melhor. E, na grande maioria dos casos, tomam a decisão correcta e são os espectadores que, ignorantes da Lei, protestam violentamente, impondo a emoção à razão, pressionando para que a sua cor, apesar de faltosa, deixe de ser “roubada!”.
Nada deste comportamento se justifica ou ajuda o rugby português no seu desenvolvimento e progressão. Pelo contrário: desfocaliza jogadores, pressiona treinadores e árbitros de forma desadequada, retira lucidez aos intervenientes e transforma o jogo num espectáculo nada dignificante e que só diminui o campo de influência da modalidade.
Precisamos de melhorar todos os dias o rugby que se joga em Portugal. Para o que necessitamos de melhores treinadores, melhores jogadores, melhores árbitros, melhores dirigentes. Numa vontade que dispensa claramente os piores exemplos da Blood, Sweat and Beers de antanho.
E se, em vez deste comportamento trauliteiro e para começar o novo ano, fizéssemos um esforço para aprender as Leis do Jogo e a sua aplicação prática? Um esforço para que os treinadores fossem exigentes com os seus jogadores, educando-os de acordo com as Leis do Jogo; um esforço dos dirigentes para imporem o rigor das Leis do Jogo nas equipas dos seus clubes e decente comportamento aos seus adeptos; um esforço dos espectadores para que se comportassem como gente bem-educada. E se não há, como também sabemos, jogos sem árbitros e para um futuro com tudo a correr pelo melhor, porque não tentar uma parceria: criar o hábito de convidar os árbitros para se treinarem semanalmente com os diversos clubes.
Talvez assim pudéssemos fazer compreender a marca da nossa diferença: no Rugby, a vitória, sendo importante, não é o mais importante; o mais importante é poder pertencer a uma comunidade muito especial – a comunidade rugbística.
Lisboa, 1 de Janeiro de 2009

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