quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Jogo da Batalha Medieval


O râguebi é um jogo simples. Tão simples que mais parece um jogo de batalha medieval.

De cada lado do campo, um castelo — a área de validação — com uma torre de menagem — os postes. O objectivo do jogo consiste em conquistar um dos castelos, colocando a bandeira - a bola - no seu pátio interior o que, em termos do jogo, significa marcar um ensaio. Ensaio a que se segue a possibilidade da “transformação” — pontapé colocado — que mais não simboliza do que o bombardeamento da torre para, impossibilitados de manter a ocupação, impedir a sua reutilização pelo derrotado.

Para o desenvolvimento desta batalha, as equipas dispõem das clássicas forças que compõem os exércitos: uma infantaria — o bloco de avançados — uma cavalaria —, os três-quartos —, uma artilharia, formada pelos pontapeadores e uma dupla de estrategos — os dois médios. Como na batalha, à infantaria competirá atacar as linhas defensivas adversárias, desorganizando-as e criando rupturas por onde se possam fazer avanços — as penetrações — que obriguem as defesas a deslocar elementos de outros terrenos para tapar as brechas. Conseguido isto, é altura de lançar, na exploração do sucesso obtido, a cavalaria que, em desfilada, ataca o espaço livre e procura atingir o interior do castelo.

Quando, por boa organização defensiva, a infantaria se mostra incapaz de cumprir a sua missão, compete aos estrategos deste exército recorrer à artilharia — jogo ao pé — para, bombardeando o campo adversário, obrigar ao recuo das suas linhas de defesa.

Ganha esta batalha quem mais vezes conquistar o castelo adversário. O que se consegue através de uma infantaria poderosa, organizada e conquistadora, de uma cavalaria rápida e acutilante e da capacidade dos estrategos de decidirem, em tempo útil, pelas alternâncias de ataque — penetrante, envolvente ou de bombardeamento — que as forças do seu exército proporcionam. No jogo do râguebi, traduz-se assim essa estratégia: “são os avançados que ganham os jogos, restando aos três-quartos afirmar por quantos.”.

Publicado no Público, Lado Aberto, 1995 por ocasião da Taça do Mundo

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